quarta-feira, 15 de outubro de 2008

NOSSA PROPOSTA PARA O TEATRO REGINA/DULCINA



Movimento Dulcynelândia

para abertura do Teatro Regina-Dulcina

e sua transformação em uma Universidade Livre.


Centro de Pesquisa Multiversidade Antropofágica Dulcyna de (A)Moraes



O Movimento Dulcynelândia propõe aqui a universidade livre Centro de Pesquisa Multiversidade Antropofágica Dulcyna de (A)Moraes para reabertura do Teatro Regina-Dulcina e sua ocupação. No prédio onde Dulcina de Moraes começou a primeira universidade de teatro do Brasil, onde seu teatro estava até esse ano fechado e esquecido por oito anos.


Não somos um grupo ou companhia querendo ocupar o teatro com nossas peças/trabalhos, dos nossos umbigos artísticos.


O Movimento Dulcynelândia é o encontro dos que estão estudando, além dos objetos artísticos próprios de sobrevivência, o desenvolvimento de um espaço de pesquisa, de uma nova estrutura de ensino e relação com o seu social.

A Universidade desejada não será para administração de um grupo em um prédio, em um teatro, ou de grupos, por grupos.

Não.


O projeto para a universidade livre Centro de Pesquisa Multiversidade Antropofágica Dulcyna de (A)Moraes consiste em ser um espaço vivo e aberto para indivíduos que querem, precisam, desejam, obter um determinado conhecimento.

O Centro de Pesquisa é um meio de obtenção de material para as pesquisas pessoais, nele se busca e dispõe-se do material necessário para seu estudo. É canal de acesso ao conhecimento buscado para o proponente de cada estudo pessoal. A esses estudos pessoais chamamos universidades. Ao obter esse conhecimento, o indivíduo-universidade (dando continuidade a sua pesquisa individual) terá por função social viva passar informações de sua universidade para outros futuros indivíduos-universidades, dando continuidade ao trabalho de instigação à busca do conhecimento.


Não se trata de querer destituir o ensino instituído no Brasil, mas sim começar a revê-lo a partir de um espaço como a Universidade Livre Multiversidade Antropofágica Dulcyna de (A)Moraes. A íntima e renovada relação entre o que obtém o conhecimento motivado por uma paixão/aptidão, e aquele que precisa primeiro conhecer para se auto-instigar e descobrir sua aptidão/paixão/aprendizado.


Porém antes de entrar nessa questão é preciso entender que existe na Multiversidade Antropofágica Dulcyna de (A)Moraes três instâncias:


- O Catalisado

- O Catalisador

- O Estimulado


O Catalisado é a pessoa buscada para passar o conhecimento para o Catalisador, que foi quem propôs a universidade, seu estudo pessoal, que por sua vez passará o que aprendeu para os Estimulados obterem conhecimento para decidirem quais serão suas universidades.


Como idéia inicial, ainda a ser estudada dentro do que tange questões financeiras do projeto, o Catalisado receberá todo o suporte financeiro para passar na Multiversidade o conhecimento que irá aumentar o prisma da universidade do Catalisador. O que também não exclui, de o próprio Catalisador ter de viajar ou viver sua experiência, sua universidade, em outra região que não o próprio Centro de Pesquisa.


Os Estimulados são todas as pessoas de todas as idades, que não descobriram suas universidades ainda, cabendo ao Catalisador estimular essas pessoas para que se sintam à vontade para buscar seus próprios conhecimentos, sua próprias universidades, ou seja, se tornarem novos Catalisadores, como uma contrapartida da Universidade Livre em ação na sociedade.


A Multiversidade Antropofágica abrindo seu umbigo para a troca direta no social é para que não se torne um espaço de estudos apenas do umbigo mal cuidado, do ego mal trabalhado do artista, que fica em seu universo próprio sem perceber e atuar no seu social; e sim ser um espaço de abertura, discussão e transformação da sociedade.


O Catalisador tendo que estimular o conhecimento em oficinas, encontros, discussões (que chamamos de multiversidades, o lugar da troca dos conhecimentos, a ação da interação com a informação, do encontro com o objeto desejado), já coloca em prática e em circulação o fundamento da Universidade Livre Antropofágica; tirar as amarras existentes nas escolas, os tabus da sociedade, instaurados na estrutura escolar desde o ensino de base até a universidade tradicional. Onde são implantadas nas cabeças as morais do respeito, da ordem, da igualdade, até da liberdade, que ao terminar o colégio e faculdade não condizem com o estado real da sociedade. E quando muitas vezes condiz faz da instituição de ensino padrão ser uma reprodutora da sociedade vigente, a qual não tem oferecido situações reais de reflexão do que seria uma moral, um respeito, uma ordem cabível aos nossos dias, passível de trazer transformações para as questões que hoje oferecem tantos problemas à sociedade.


É impossível fundamentar agora, na teoria, toda a inter-relação entre o Catalisado, Catalisador e Estimulado – A Multiversidade Antropofágica; assim como é impossível de saber nesse momento social como buscar os Estimulados, para que ele não seja trazido pelo braço sentado em uma cadeira, onde ele ouvirá coisas artísticas, como é o formato das oficinas de projetos sociais, enfim... Para isso não ocorrer, propomos a vida e a vivência concreta da Multiversidade através do que vivemos na ágora instaurada na Rua Alcindo Guanabara.

Propomos através do CHUTE.


O CHUTE é uma ocupação artística nascida no Rio de Janeiro, na Cinelândia, parida dia 20 de julho. O objetivo inicial era reunir artistas e mobilizar o público aos domingos para apresentações, num encontro que representa a conscientização dos artistas e do público para a administração equivocada do Teatro Dulcina, teatro na Cinelândia com importância de nível nacional. Assim, ao mesmo tempo em que acontecem performances, peças e shows na rua, a troca e o encontro dos artistas possibilitam uma discussão, na ação, do destino de espaços abandonados, mal administrados. A idéia é que a ação de ocupação seja feita a partir da tomada desses espaços, começando pelo espontâneo revelado na Rua e da coragem artística de trocar na Rua, indo até as instâncias dos órgãos e das burocracias. Tudo na relação viva entre o bar ao lado do teatro, a Ocupação Manuel Congo na frente do teatro, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro ao lado. Estando na rua juntam-se todos; moradores de rua, as crianças da Ocupação com suas mães, pessoas migradas de várias partes do rio, passantes que param; e os artistas circulando e tendo que trocar.


A proposta é firmar essa ação nos CHUTES como uma vivência para a elaboração e desenvolvimento do projeto da Universidade Livre; a primeira vivência dessa Multiversidade Livre Antropofágica em construção aberta pelos que pensam o avanço do social através do telúrico.


É preciso então começar a projetar e desenvolver a idéia dessa Universidade dentro do social, em leis, descobrir como sobrevive essa universidade, como seria administrada, como seria o conselho de diretoria, como se fundamentaria a burocracia, ou melhor, como seria a dinâmica da busca do catalisado por esse conselho, como funcionaria a engrenagem da universidade. (?)


Para isso retornamos a dizer: o CHUTE fundamentado como uma Multiversidade.


O TEATRO dentro e fora


Com o palco, cuja boca de cena media 7m de largura por 5m de altura, era provido de urdimento com 12m de altura. As coxias tinham 1m de largura; a profundidade do palco era de 8m e a avant-scène tinha 0,80m. A passarela media 10m de comprimento e 0,80m de largura. (Ficha Técnica dos teatros SNT – 11/12/78).

Características físicas: ocupando a esquerda do térreo e os três pavimentos seguintes do Edifício Teatro Regina, fica ao lado de uma galeria, à direita da qual localiza-se o Cinema Orly.

Trata-se de um edifício de linhas modernas, de 12 andares, encimado por uma cobertura.

Fachada: sobre a fachada na época da inauguração nada se encontrou nas fontes pesquisadas. Segundo Pepa Ruiz – ex-atriz e administradora do Teatro Dulcina – “não houve alteração no frontispício”: assim é que, atualmente, na parte térrea revestida de mármore branco, fica a entrada principal, que se compõe de três portas metálicas de enrolar, sobre a quais aparecia o nome Teatro Dulcina.

A partir do primeiro pavimento, a fachada sofre um recuo e, logo acima da marquise, estendendo-se por toda a largura do prédio, há janelas guarnecidas de vidro, com altura de mais ou menos um metro, que favorecem a iluminação.

A fachada, de concreto em quase toda sua extensão, apresenta seis faces, onde se lê, em relevo, o nome Regina.


Abrir as portas desse teatro, fazer a reforma emergencial, tombar a fachada histórica que leva o nome REGINA (que viu todos os que por ali passaram), tombar o prédio de uma forma que ainda seja e possa ser transformado em seu interior. Abrir a discussão sobre o espaço dentro da Multiversidade. Trazer os estudos arquitetônicos, as pessoas de teatro, cinema, poetas, público.


A reforma do teatro: uma reforma emergencial seria arrumar a fiação, o encanamento, luz e água, limpar o teatro. Limpar mesmo. Tirar o pó, e o pó do teatro de palco, retirando o palco italiano assim como o tablado colocado sobre as cadeiras da platéia. Retirar as cadeiras da platéia, todas. Zerar o espaço é a demanda primeira. Ver as paredes, ver o chão, ver as inclinações do solo, as alturas do pé direito do fundo do teatro das frisas até os subterrâneos dos camarins e das passagens para fora do teatro, descobrir o rio que passa em baixo do teatro, ver os limites. Daí então, com o teatro zerado e aberto, acontece o CHUTE em uma escala de 24 horas por dia.


O CHUTE como experiência para desenvolver o projeto da Multiversidade para o prédio inteiro, que é a dinâmica do CATALISADO-CATALISADOR-ESTIMULADO, poderia dar-se assim: fecha-se uma programação de 10 CHUTES, por exemplo, e cada pessoa-grupo envolvido desenvolve uma proposta de atuação e se torna um CATALISADOR. Assim os CHUTES aconteceriam sempre como Multiversidades dentro do teatro, e daí então descobrir-se-iam CATALISADOS e ESTIMULADOS.


Essa idéia de começar, em um movimento artístico, uma Universidade Livre, que deve caminhar para todos os tipos de profissão e busca de conhecimento, é para atrairmos as pessoas e estimularmos o interesse ao conhecimento através da arte. Multiversidades com pessoas de todas as idades, dentro de como cada um se propõe a atuar no CHUTE.


Não temos em mente abrir um espaço onde crianças ou pessoas façam oficinas/cursos/workshops e entrem em uma montagem de filme ou peça de teatro. Se isso acontecer é por opção de cada CATALISADOR. A idéia é fundamentar um lugar onde se possa buscar conhecimento, obter experiência, e passar a bola, botar em prática o conhecimento comido, circular o sangue, mover a matéria.


Por isso através deste documento-proposta-estatuto-projeto, pretendemos trazer ao conhecimento de todos nossa proposta e colocar em discussão as possibilidades de execução e, o mais rápido possível também, executar esse que é um germe de um projeto que levaria à construção dessa Universidade Livre; que ocuparia o prédio inteiro, com a galeria ao meio, com um bar-café ligando o encontro e espera para os filmes no Cine Orly e para as peças do Teatro Regina-Dulcina. Servindo também de parada para os que freqüentarem a Universidade Livre, que se daria nos 10 andares do prédio. Em cada andar um setor para Universidade, espaços para prática, biblioteca, andares informatizados ligados ao mundo.


É dado o segundo sinal.

E nele uma direção.


Não façamos do Regina-Dulcina espaço para grupos ocuparem, como já aconteceu na história do próprio teatro, nem como cabo eleitoral, para projeto de uma única eleição.


Ali onde foi pensada e iniciada, a primeira Universidade de Arte, de Teatro, do Brasil, nos gritam para uma ação antropofágica.


Saindo do debate para a ação viva.



Movimento Dulcynelândia

dulcynelandia@gmail.com



PS: Projeto aberto e texto aberto pra criação do Centro de Pesquisa Multiversidade Antropofágica Dulcina de (A)Moraes. Interessados pela difusão, desenvolvimento e formatação do projeto, se comuniquem. Aberto!

TOMBA! TOMBA! TOMBA O TEATRO!



TOMBAMENTO DO TEATRO REGINA/DULCINA

para Multiversidade Antropofágica


“O teatro do futuro vai sair desta terra,

desta inquietude e desta pobreza brasileira.”

Dulcina de Moraes


PREÂMBULO HISTÓRICO


O Teatro Regina na Rua Alcindo Guanabara no Rio de Janeiro, Cinelândia, é conhecido como Teatro Dulcina devido à passagem histórica da mulher de teatro.


Essa mulher Dulcina de Moraes (1908-1996), terceira geração de teatro nascida em Valença, no meio da turnê da companhia mambembe que seus pais - Átila de Moraes e Conchita, também figuras importantes no teatro Brasileiro - faziam parte, foi uma das mulheres mais importantes não só para o teatro, mas para a educação, para o Brasil.


O Jornal do Comércio, em sua edição de 5 de dezembro de 1935 – data da inauguração – comentando o coquetel que o proprietário ofereceu à imprensa, relatava sobre a sala de espetáculos: “E os convidados elogiaram com entusiasmo o bom gosto e o conforto a que tudo ali obedece”. Mário Nunes, em sua obra, assim o descreveu: “A sala em linhas singelas é um portento de aproveitamento de espaço, bem dispostos, a platéia, camarotes e balcões. Decoração moderna, em cores mortas, lisas, luz indireta em tons cambiantes, criam atmosfera de satisfação visual”.


Inicialmente, o Teatro Regina não dispunha de aparelhagem especial para seu arejamento, tanto que Vivaldi L. Ribeiro, ao arrendá-lo em 1940 ao SNT afirmava não se responsabilizar se “as autoridades públicas determinassem o fechamento do teatro por falta de refrigeração ou outro qualquer motivo...”


Em 1940, o Teatro Regina, foi, então, arrendado pelo MEC, pelo prazo de quatro meses, ou seja, de 01 de agosto a 03 de dezembro desse ano, e pela quantia de doze contos de réis, quando o Sr. Abadie Faria Rosa assumiu a direção do SNT.


O Teatro Regina passou por reforma completa após o incêndio de 02 de julho de 1944.


Em 1945 o Teatro Regina passou a pertencer à Companhia Dulcina-Odilon, que criava no mesmo ano a Fundação Brasileira de Teatro “com o objetivo de ensinar teatro aos jovens”.


Foi ela, junto com outros artistas, pedagogos, entidades de ensino; quem pensou na possibilidade de uma faculdade de teatro - a primeira do Brasil - iniciada no prédio Regina, onde a Fundação Brasileira de Teatro ocupava o 5° dos dez andares, de 1953 até 1977.


Em junho de 1946, Genolino Amado, que estreava como autor teatral, dizia: “me alegra que “Avatar” se apresente na inauguração do Regina tão esplendidamente remodelado...”. E Odilon acrescentava: “Estrearemos dentro de dias com “Avatar” que é uma linda peça”.


Dulcina e Odilon falavam das obras, em entrevista concedida à revista Comédia: “Tudo foi feito sob a competente direção do Dr. Celso Melo e, não só se procurou o conforto máximo para o público como vários elevadores, refrigeração, conforto mesmo de ambiente, dando à sala não somente ótimas poltronas, mas ornamentando-a de forma discreta e elegante, bastando dizer que só a cortina de boca custou Cr$100.000,00 como ainda se tratou do conforto do artista, dando-lhe o melhor que o edifício permite, como camarins etc...”


As paredes, revestidas de estucamento especial, foram motivo de comentários. A aparelhagem de iluminação compunha-se de chave trifásica de 300A e chaves de distribuição para todo o teatro, além de um conjunto de resistência eletro-mecânica – com seis unidades e capacidade de 5.000W cada.


Por meio de um contrato de locação, o Sr. Arthur Fomm alugou-o por um ano, para atividades artísticas, de 01 de julho de 1961 a 30 de junho de 1962 – pelo preço de trezentos mil cruzeiros mensais.


Em 05 de abril de 1977 o Teatro Dulcina “foi vendido ao Ministério de Educação e Cultura e (...) a veterana atriz (Dulcina) entregou suas chaves ao diretor do Serviço Nacional de Teatro, Orlando Miranda”.


Em 1978, segundo relatava o Anuário da Casa dos Artistas, o Teatro Dulcina abriu “suas portas, às sextas-feiras, para apresentação do Projeto Pixinguinha, de incentivo à música popular brasileira, da Funarte”.


Segundo registra a Ficha Técnica do SNT, em 1978 a lotação era de 568; 110 no balcão; 4 nos camarotes; 4 nas frisas; 80 nas galerias; além de 8 cativas.


Em 1981 foi iniciada uma nova reforma com o arquiteto Robson Jorge Gonçalves.

A partir de então – até a época em que foi fechado para reformas, dezembro de 1981 – o SNT cede o Teatro Dulcina a companhias selecionadas por uma Comissão julgadora. O período mínimo de ocupação era de oito semanas e máximo de doze meses, destinando-se 8% de renda ao SNT, de acordo com os Editais de 1977, que regulamentaram a concorrência para ocupação do teatro por companhias profissionais.


O teatro foi reaberto em março de 1984 com o espetáculo “Galvez, o imperador do Acre”, dirigido por Luís Carlos Ripper, depois de ficar fechado para reformas desde 1981.


O teatro foi ocupado pelo grupo “Os Fodidos Privilegiados” de agosto de 1996 -quando Dulcina Morre - a junho de 2001 quando o teatro foi entregue à prefeitura. Quem dirigia a FUNARTE na época era Antônio Grassi, que entregou o teatro em comodato à Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro sob o governo de César Maia.


Hoje, 2008, a Prefeitura - ainda no governo de César Maia - está sendo processada pela FUNARTE agora dirigida por Celso Frateshi depois de obter a chave do Dulcina novamente. A acusação é o estado em que se encontrou o teatro depois da administração da prefeitura. Na verdade todo tempo que a prefeitura teve o teatro nas mãos o teatro permaneceu de portas fechadas.



O TOMBAMENTO


O teatro fechado é reflexo da falta de ação viva para o conhecimento,

educação e cultura em todas as atmosferas da sociedade e culturais


Durante todos os anos de existência, a fachada do teatro sempre foi a mesma observando os acontecimentos políticos e vivos culturais da Cinelândia desde sua criação até hoje, e vivendo e sofrendo as transformações internas.


O Teatro já pegou fogo. Recebeu reformas. Foi palco de grandes peças em todos os momentos em que suas portas estiveram abertas.


O acesso ao prédio é entre o Teatro Dulcina e o Cine Orly, que também faz parte do prédio. Nos andares do prédio a ocupação é de escritórios.


Esse prédio, sendo um marco na história do Teatro – ali passaram importantes artistas e peças desde 1935 até o fechamento atual em 2001/2008 – se abre para um novo ciclo dentro da mítica do centenário de Dulcina.


Pois esse teatro, mesmo com todos esses artistas que por ali passaram, ainda não foi tombado.


E é considerando toda essa história do prédio/teatro e da atriz que viveu todas as transformações sociais e do teatro no Brasil, e impulsionando pra mais 50 anos; chute pra frente em dobro, novos teatros e novas pesquisas com outras artes e vidas - que fazemos essa proposta de tombamento.


É fato, o prédio/teatro referido contribuiu na ação do nascimento da primeira universidade com um grupo de pessoas onde Dulcina de Moraes, hoje, é representante centenária dessa geração. Esse signo de atriz, de mulher do teatro, de educadora, diretora, produtora, está trazendo a projeção, a possibilidade, a poesia, de renovação do prédio Regina em uma Multiversidade Antropofágica.


Depois de Dulcina, depois da fundação da FBT em Brasília, as lutas políticas de estudantes para rever a universidade no decorrer da história do Brasil, intelectuais como Darcy Ribeiro que pensaram a universidade; o Teatro Oficina - ícone e inspiração para o teatro Brasileiro, que completa 50 anos de existência como grupo ativo - foi quem trouxe de volta a idéia de uma universidade, porém nova, livre, antropofágica. Inspirado nas palavras proferidas por Oswald de Andrade, tanto para os Centros de Pesquisa, como para o Teatro de Estádio, projeto do qual é a força de resistência do grupo paulista dirigida desde o início pelo diretor Zé Celso. O Oficina tem um projeto de um teatro de estádio no bairro do Bixiga, onde atua desde seu nascimento, em contraponto a um projeto do Grupo Silvio Santos, que é a construção de um shopping, justamente no quarteirão onde se encontra o Teatro Oficina e o Estacionamento do Baú da Felicidade. Esse projeto do Teatro de Estádio, que veio das especulações e das renovações do grupo antropófago liderado por Oswald de Andrade e Oswaldo Costa, com contribuição de escritores e artistas do Brasil inteiro, principalmente Rio de Janeiro, é inspiração para a renovação do teatro Dulcina, do prédio inteiro. Se ali foi pensado um tipo de educação, que hoje estamos acostumados, porque não pensar uma nova? Ou: Porque não dispor um espaço em que se possa praticar essa busca de uma Multiversidade? E viver todos os tipos de ensino.


Portanto o tombamento do prédio – sendo ele importante na história, dentro de um projeto para uma Universidade Livre, proporcionando um espaço de busca e prática do conhecimento e experimentação - leva em consideração os esforços empreendidos por todos os que buscam e buscaram uma educação e cultura livres, experimentadoras e práticas, a caminho de uma sociedade melhor.


É preciso agir como Dulcina - que completaria 100 anos em 2008 - e renovar a idéia de Universidade, assim como para o sentido de profissionalização, e da captação e prática de um desejo.


E é na ação viva em frente do Teatro Regina/Dulcina que o Movimento Dulcynelândia, grupo de artistas, se reúne para desenvolver seus projetos e o centro de pesquisa - um espaço de informação e ação na porta do Teatro.


Projetando uma universidade que atinja todas as atmosferas de busca de conhecimento, iniciada no plano artístico. Afim de atingir os tabus ditos do manifesto antropófago e superá-los para os próximos tabus em totem e assim sucessivamente. A ação é feita em parceria com a ocupação Manoel Congo de frente ao Teatro, o bar ao lado do teatro, criando uma Ágora na rua aos domingos, comprovando na prática a possibilidade de um lugar de troca, livre para conhecimento e ação. Uma Universidade Antropofágica, em resistência; CHUTE é o estudo de como seria o lugar onde se obtém conhecimento e se pratica o estudo pelo estímulo da continuidade da busca individual.


Na prática.


O pedido de tombamento requerido é devido à importância histórica pelo que a fachada e o teatro viram na história do Brasil transitando ali na Cinelandia, e culturalmente pelo que produziu, tanto no plano do teatro, todo o momento em que esteve de porta aberta; e principalmente no sentido educacional-artístico, pela universidade. Que tomamos como inspiração para uma nova relação de ensino.


Assim, impulsionar o prédio, o teatro à esquerda e o cine à direita, como uma Universidade Livre para prática e busca do conhecimento dos moradores da cinelandia, assim como migrantes de vários lugares do Rio, cumpre assim a função e poesia de sua construção. Ícone que caracteriza e fortalece o centro histórico do Rio de Janeiro, não pode ser água parada, mesmo aberto. O Prédio Regina na Alcindo Guanabara, uma pequena Rua, onde se encontra o restaurante amarelinho, a praça da Cinelandia, próximo do Cine Odeon, do Municipal, entre muitos outros prédios culturais, merece ser um espaço de ação nova e viva. Subvertendo a ordem e a idéia de congelamento histórico. Para não desmerecer a história lá ocorrida, nem toda a ação empregada pelo desejo de espaços novos, materiais etc.