quarta-feira, 30 de julho de 2008

Dulcina história por B. de Paiva

DULCINA: pinceladas sobre as muitas vidas da Primeira Dama do Teatro Nacional

DULCINA (Mynssen) de Moraes (Azevedo), filha dos atores Átila de Moraes e Conchita de Moraes, nasceu em Valença, Estado do Rio de Janeiro, no ano de 1908. Estreou com um ano de idade.

Atriz, Diretora, Produtora de Espetáculos, Professora de Artes Cênicas, casada com ODILON AZEVEDO, (ator, diretor e escritor respeitado) DULCINA foi considerada pela crítica como a mais importante intérprete teatral brasileira no Século XX.

Representou em mais de uma centena de espetáculos, lançando pela primeira vez no Brasil, autores tais como Eugene O´Neill, Bernard Shaq, Garcia Lorca, Giraudoux, atuando com grande sucesso de crítica e público, em temporadas de mais de um ano em Buenos Aires, Montevideo e Lisboa. Além de seu trabalho criativo como intérprete, foi pioneira na luta pelos direitos sociais dos atores e técnicos teatrais. Antes de DULCINA, o profissional de teatro trabalhava de segunda a segunda. Havendo dias em que (quinta, sábados, domingos e feriados) chegavam a fazer três sessões diárias. Foi Dulcina quem aboliu o “ponto” no Teatro brasileiro. Antes dela o intérprete “dizia o texto pelo ouvido”, ainda que muitos, mesmo assim, puzessem a “alma pela boca”!

Em 1955, DULCINA e ODILON criaram a FUNDAÇÃO BRASILEIRA DE TEATRO, a FBT, que, em princípios dos anos 70, transferiu-se para Brasília.

Foi a grande incentivadora, com Paschoal Carlos Magno, do movimento teatral de amadores, como parte representativa da Identidade Nacional, a partir da representação dos jovens e de suas diferenças regionais. Foi no “ 1º Festival de Teatro Amador, no Rio, promovido pela FBT em 1957, que DULCINA apresentou, pela primeira vez ao País, Ariano Suassuna com o seu “O Auto da Compadecida”. O texto que DULCINA apresentaria, profissionalmente, com elenco em que estavam seus alunos da Academia de Teatro da FBT, tendo Agildo Ribeiro no papel de “João Grilo” no, talvez, papel de maior sucesso de sua carreira.

DULCINA foi uma das principais introdutoras do ensino da Educação Artística na universidade brasileira, Graças a ela, entre poucos pioneiros, o Teatro passou a fazer parte da sofisticada família do ensino superior no Brasil. O Parecer do Conselho Federal de Educação do MEC que instituía o “currículo mínimo” das carreiras universitárias de Ator, Diretor, Cenógrafo, Teórico de Teatro e Professor de Educação Artística na habilitação de Artes Cênicas, foi redigido a partir de documento apresentado por professores da FBT e da UniRIO, tendo DULCINA como principal incentivadora. A FBT manteve, no Rio, de 1955 a 1968, uma escola de Teatro ( a Academia de Teatro da FBT), em nível de 2º grau, na qual estudaram centenas de alunos, entre eles: Rubens Corrêa, Ivan de Albuquerque, Irene Ravache, Isolda Cresta, Nildo Parente, Maria Pompeu, Yan Michalski, Francisco Fernandes, Mariane Vicentine, Dora Vainer, Marcelo Sabac, Preto Rezende, Francoise Fourton, Adriana Nunes, Fernando Guimarães e tantos outros. Foram professores da Academia de Teatro da FBT: Cecília Meireles, Junito Brandão, Joracy Camargo, Raimundo Magalhães Junior, Adolfo Celi, Ziembinski, Henriette Morineau, Lílian Nunes, Adonias Filho Ratto, Cacilda Becker, Bibi Ferreira DULCINA, Odilon, José Jansen, José Paulo Moreira da Fonseca.

Ao transferir a sede da FBT para Brasília, DULCINA construiu, com projeto de Oscar Niemeyer, o novo “Teatro DULCINA” e a primeira Faculdade de Artes efetivamente autorizada e reconhecida no país, à época; a hoje Faculdade de Artes DULCINA DE MORAES. A FADM foi autorizada em 1980, com nove cursos superiores, passando a funcionar, regularmente, no 2º semestre de 1981. De 1984 até este 1º semestre de 96, graduou e licenciou quase dois mil bacharéis e licenciados em Artes Cênicas, Artes Plásticas e Artes Musicais, no universo das Artes e da Educação Artísticas. A maioria de seus alunos, hoje, por concurso, ocupa fundações de magistério no DF e em muitas outras cidades, além de dezenas de seus ex-alunos serem dos mais importantes e atuantes artistas cênicos de Brasília, e outros Estados, inclusive da televisão brasileira.

DULCINA entregou á FBT todo seu patrimônio particular, vivendo, hoje, de singela aposentadoria como atriz e residindo em apartamento funcional que lhe foi cedido pela Presidência da República. Apenas sua sobrinha, Vera, está presente ao seu lado, tomando conta de sua tia, com ternura e dedicação.

Esta mulher – esta grande mulher – Patrimônio Cultural do Brasil, instituiu uma fundação sem fins lucrativos, reconhecida de Utilidade Pública, a nível nacional e pessoa que, sempre, devemos reverenciar. Como brasilienses! Como brasileiros!

B. De Paiva,

8 de setembro de 1995. (Mensagem aos alunos, na volta às aulas, passando o Dia da Pátria).

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